Dando continuidade à sequência de webinars técnicos a Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) em conjunto com diversas instituições e órgãos de Governos conseguiram reunir 750 inscritos de 13 países diferentes para assistir ao evento que discutia a gestão de populações de javalis. O debate foi moderado pela diretora técnica da ABCS, Charli Ludtke e pela Chefe da Divisão de Sanidade dos Suídeos do MAPA, Lia Coswig. O tema foi escolhido pela relevância e atualidade, já que vários países da Europa e Ásia, vêm sofrendo com focos de Peste Suína Africana (PSA), doença que pode ser transmitida por javalis, e impacta de forma drástica os suínos domésticos e a economia do país. Além da PSA, os suídeos asselvajados podem ser responsáveis pela transmissão de diversas doenças e representam fatores de risco para a atividade agropecuária, assim como também ao meio ambiente, com a destruição de plantações, nascentes e danos à fauna e espécies protegidas, podendo levar ao desequilíbrio nos biomas locais, em virtude de rápido crescimento exponencial da população.
Nas palavras da Auditora Fiscal Federal do Departamento de Saúde Animal do MAPA, Lia Coswig, “Entendemos a importância de fazer parte de um programa internacional envolvendo diversos países corroborando para compartilhar conhecimento e aprendizado para aprimoramento de medidas sanitárias. Esse é um assunto multidisciplinar, com o trabalho conjunto do Ministério da Agricultura, do Meio Ambiente, controladores, pesquisadores, criadores e agroindústrias, serviço veterinário oficial, produtores rurais, mas que também envolve a sociedade e a necessidade de compreender que o controle desta população está relacionada a questões de saúde pública e redução dos danos ao meio ambiente.”
O primeiro convidado foi o Zootecnista e Coordenador-Geral de Gestão da Biodiversidade, Florestas e Recuperação no IBAMA, Rodrigo Dutra, que trouxe a situação atual, desafios e perspectivas do manejo populacional do javali no Brasil. Segundo ele, o javali ocupa a posição no ranking mundial das 100 mais complicadas espécies invasoras, devido ao seu potencial de impactar negativamente a economia e o meio ambiente, e também pela dificuldade em controlar sua proliferação. Dutra trouxe o histórico de manejo no Brasil desde 1960 quando houveram os primeiros registros no Paraná, passando por períodos onde a criação de javalis era permitida e pela sua proibição, até o ano de 2019 quando foi instituído o Sistema de Informação de Manejo de Fauna (SIMAF).
Ele falou também sobre o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Javali no Brasil, coordenado há cinco anos pelo IBAMA e pelo MAPA com o objetivo de conter a expansão das populações de javalis em território nacional. Esse sistema institui medidas de biossegurança para evitar o contato de javalis com suínos domésticos, levanta dados técnicos, promove ações que visam a redução dos impactos causados por invasões de javalis, busca recursos e aprimora a gestão de processos de eficácia para o controle populacional desses animais. Além disso, também gera conhecimento técnico-científico para capacitar públicos específicos sobre os javalis e mantém a população informada e sensibilizada sobre os riscos representados por eles. Para Dutra, um dos maiores desafios é fazer com que a sociedade compreenda os prejuízos causados pelos javalis e as ações necessárias para a prevenção, controle e monitoramento.
Para falar sobre as medidas que vêm sendo adotadas na Espanha, o Engenheiro Agrônomo e Diretor Geral da Fundação ARTEMISAN, Luis Fernando Villanueva, apresentou a situação da Espanha, destacando que no território há duas subespécies de javalis, a castilianus e baeticus. “O estado da população de javalis é adaptável, de crescimento exponencial, e em todo âmbito da Espanha é considerada uma espécie cinegética. Importante falar disso para termos uma visão da importância que esses animais tem nas mudanças ocorridas no país. 85% do território da Espanha é um território cinegético, um terreno onde se caça. Portanto, se tirarmos as grandes cidades, centros urbanos, praticamente a quase totalidade do país é território de caça. Ao comentar sobre as medidas necessárias para gestão da população dos animais, reforçou que a flexibilização das regulamentações (permissões, autorizações, cotas e dias) de caça, monitoramento das populações, melhoria os sistemas de alimentação e a necessidade de medidas de bioseguridade e prevenção, são essenciais para se alcançar bons resultados. No entanto, a redução de caçadores e o surgimento de movimentos contrários a caça, tem acarretado sérios desafios para essas políticas, forçando o governo a recusar essas gestões mais flexíveis. Por fim, encerrou a apresentação com a seguinte mensagem: “O caçador do século XXI deve entender a necessidade de se adaptar à consciência da conservação da sociedade atual, mas a sociedade urbana deve abordar a realidade do mundo rural e a importância do controle dos javalis para a conservação da nossa biodiversidade”.
Já o Médico Veterinário, Doutor e Representa a proJAB e a Associação de Controladores de Javalis de Artigas (ACJA), Martín Altuna, explicou os fatores que contribuem para a proliferação dos javalis no Uruguai. Segundo ele, o clima temperado, as fontes naturais de água, o crescimento das áreas florestais e agrícolas que propiciam refúgio e facilidade na alimentação dos javalis. A falta de predadores e a diminuição do número de caçadores, também têm garantido a continuidade dessas populações. Ele citou ainda um levantamento feito em propriedades que sofreram prejuízos por conta de javalis em 2019. Cerca de 152 locais relataram danos na pecuária, agricultura e meio ambiente, entre elas, danificação nas lavouras, predação de cordeiros e bezerros, destruição de vegetação nativa, entre outros. Ressaltou, ainda que as medidas de controle utilizadas no Uruguai, tem focado na adoção de medidas de confinamento para a proteção dos animais de produção, utilizando telas e cercas elétricas, cães de pastoreios e também a caça aos javalis. Em algumas regiões tem se utilizado a captura e o abate dos javalis em abatedouros móveis, com adequada inspeção de destinação das carcaças.
Segundo a diretora técnica da ABCS, Charli Ludtke, “Trouxemos mais uma temática desafiadora, diferentes realidades e ações de enfretamento, sendo importante compartilharmos as experiências enfrentadas pelo Uruguai, Espanha e Brasil. A questão populacional de javalis, invasão, e disseminação, é um assunto extremamente importante a ser tratado de forma que não existe uma única solução, conforme discutido e apresentado no Webinar. Com as apresentações dos nossos convidados, vimos as principais medidas instauradas nos países e a eficácia de cada uma. Com estas informações, poderemos adaptar muitas ações para as nossas condições, levando em conta que para a eficácia da implementação das ações, é necessário um trabalho em conjunto. Assim como, um sistema de monitoramento e distribuição das populações, associado a ações que visem conter o crescimento territorial, e a redução dos impactos nas áreas prioritárias de interesse ambiental, social e econômico.
Fonte: ABCS