A logística comprometida dos Estados Unidos, com o baixo nível do rio Mississippi, já impacta diretamente o abastecimento de soja na China, que enfrenta seu menor recebimento da oleaginosa desde 2018 – auge da guerra comercial com os EUA e da Peste Suína Africana – e vê o momento como um “apagão de farelo” no país. “Esse apagão vai aumentar porque a venda de farelo já foi feita contando com a soja americana que está atrasada. A China precisa arrumar soja de qualquer jeito”, explica Eduardo Vanin, analista de mercado da Agrinvest Commodities.
A nação asiática vem fazendo algumas compras no Brasil – na semana passada foram seis barcos e novos negócios já aconteceram nesta semana – além de Argentina, Canadá, Rússia, Uruguai, e nos EUA pelos portos do PNW (Pacífico), “mas essa janela de setembro a janeiro será de pouco recebimento e aí vai encavalar, com março a junho registrando um grande recebimento somando a soja americana atrasada e a soja brasileira”, explica o analista.
Assim, ele explica que o mercado passará por esses dois momentos, o primeiro com os chineses com pouca matéria-prima, baixo esmagamento, pouco farelo, farelo valorizado, basis do derivado bons e margens altas. Na sequência, muita soja, muito farelo, podendo haver uma reversão e, neste caso, “não seria bom para so chineses”. A demanda maior pelo farelo de soja no país é reflexo de um consumo que registrou um incremento não só na suinocultura, mas também nos setores da avicultura, psicultura e pecuárias de leite e corte. “Tudo aumentou neste ano”, afirma o especialista.
O mercado até ventila a possibilidade da China importar o farelo de soja brasileiro – e até mesmo da Argentina dos EUA – para auxiliar neste momento de apagão, já que a conta é viável relacionando o preço do produto importado versus o valor do derivado no interior da China com todos os custos envolvidos na operação. “Para isso virar realidade é uma questão de muita falta de farelo mesmo (…) E um fato novo é a China ter liberado importação de farelo da Bielorrússia, o que mostra que abrir o leque de opções seria importante, neste momento, para a indústria chinesa, para o consumidor de farelo”, afirma Vanin.
COMERCIALIZAÇÃO DE SOJA
Apesar dessas boas notícias e de uma demanda que parece ter sido, de fato, melhor para a soja brasileira nas últimas semanas, o produtor segue com um ritmo mais contido de negócios por aqui, de olho nas margens menores de rentabilidade e no clima, que ainda preocupa, em particular com um novo La Niña pelo terceiro ano consecutivo. “Tudo isso acaba travando a comercialização, mas todas as fichas estão colocadas no Brasil.O Brasil precisa produzir 152 milhões de toneladas – que é o que o USDA trouxe e a média das expectativas por aqui. O produtor brasileiro está posicionado para surfar uma onda altista daqui a pouco. Tem fundamentos para isso? Eu diria que tem. Talvez não agora, mas podemos ver fundamentos um pouco mais pra frente que podem trazer a soja em Chicago para cima, por exemplo”, afirma o analista da Agrinvest.
Eduardo Vanin afirma que a dependência da produção brasileira é muito grande e este é um ponto central para o mercado neste momento. “Se tudo correr bem, teremos um alívio na oferta global, mas não podemos esquecer da demanda. Será que a demanda de importação será de 98 milhões de toneladas na China? Essa é a outra grande pergunta. Mas o clima, agora, é o principal ponto”, diz.
Fonte: Notícias Agrícolas