Com investimentos em escala, biosseguridade rigorosa e diversificação de mercados, o país se prepara para assumir o primeiro lugar no comércio mundial de carne suína e consolidar sua posição como referência global em proteína animal
Em entrevista ao portal Notícias Agrícolas, durante a Pork Expo 2024, em Foz do Iguaçu, Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, destacou o potencial do Brasil para se tornar o maior exportador de carne suína do mundo até o final desta década. Segundo Iglesias, o país está em uma trajetória consistente de crescimento, ampliada por investimentos estratégicos e pela diversificação dos mercados de destino.
O caminho para a liderança global
O Brasil já é um gigante nas exportações de carne de frango e bovina, e agora a suinocultura se prepara para trilhar o mesmo caminho de liderança. Fernando Iglesias aponta que o Brasil possui quatro vantagens principais em relação aos seus concorrentes: escala de produção, baixo custo, biosseguridade e diversificação de mercados.
Escala de produção e investimentos estratégicos
Nos últimos anos, houve um investimento significativo em melhoramento genético e práticas zootécnicas, o que resultou em uma maior produtividade e qualidade da carne suína brasileira. Além disso, o país tem investido em questões relacionadas ao bem-estar animal, reforçando a acessibilidade do produto no mercado externo.
“A escala de produção no Brasil é imensa, e o investimento em melhoramento genético e práticas de manejo têm sido constantes”, afirmou Iglesias. Segundo o analista, esses avanços são essenciais para aumentar a competitividade do Brasil no cenário internacional.
Custo de produção competitiva e abundância de recursos
O Brasil conta com uma grande produção de grãos, especialmente milho e soja, essenciais para a alimentação dos suínos. Essa abundância mantém os custos de produção relativamente baixos, conferindo ao país uma vantagem competitiva nos mercados globais. Além disso, a moeda desvalorizada favorecendo as exportações, tornando a carne suína brasileira ainda mais atraente para compradores internacionais.
Referência em biosseguridade
Outro ponto de destaque recomendado por Iglesias é a biosseguridade brasileira. O país é considerado uma referência global nesse aspecto, com controles sanitários rígidos que evitam a propagação de doenças como a Peste Suína Africana (PSA). “Enquanto a Europa e a Ásia ainda enfrentam problemas com a PSA, o Brasil se posiciona como um fornecedor confiável e seguro”, ressaltou o analista.
A expectativa é que, até 2026, o Brasil suspenda a vacinação contra febre aftosa, ou que abra novos mercados, como o Japão e a Coreia do Sul. Esses países pagam preços mais elevados por produtos de qualidade, aumentando as receitas e o leque de destinos da carne suína brasileira.
Diversificação de mercados e redução da dependência da China
O Brasil está ampliando sua presença em diferentes mercados ao redor do mundo, o que reduz a dependência de grandes compradores, como a China. Em 2023, o país conseguiu aumentar o volume de exportações de carne suína, mesmo com a redução das vendas para o mercado chinês. Novos destinos, como Filipinas, Vietnã, Chile e Singapura, estão contribuindo para essa diversificação.
“Estamos repetindo o caminho que a avicultura trilhou há 15 anos, quando o Brasil se consolidou como líder global de exportação de carne de frango. Hoje, diversificamos os mercados, reduzimos riscos e aumentamos nossa competitividade”, explicou Iglesias.
Desafios e oportunidades
Apesar dos avanços, Fernando Iglesias destacou a importância de manter a vigilância sanitária para evitar eventuais crises, como a causada pela ractopamina que, nos anos anteriores, fechou as portas do mercado russo para o Brasil. O analista reforçou que o país precisa continuar avançando na biosseguridade e diversificando suas exportações para se blindar contra eventuais choques externos.
A crise causada pela peste suína africana na China, que prejudicou negativamente a produção de carne suína no país asiático, foi uma oportunidade para o Brasil se posicionar como fornecedor de confiança. A China continua sendo um grande comprador, mas, com o crescimento econômico e o aumento do consumo em outros países da Ásia, a demanda por carne suína brasileira deve se manter em alta.
Brasil como “One-Stop-Shop” de proteínas
Com a diversificação da produção e a qualidade crescente, o Brasil está se consolidando como um ponto central de fornecimento global de proteínas animais. A capacidade do país de atender às demandas internacionais em diferentes setores — suinocultura, avicultura e bovinocultura — torna o Brasil uma alternativa cada vez mais atraente para compradores internacionais.
Iglesias ressaltou que o Brasil é disparadamente o fornecedor mais competitivo de proteínas animais no mundo atualmente, superando Estados Unidos, Europa e outros mercados. Essa vantagem deve ser a qualidade dos produtos, a eficiência da produção e a capacidade de manter bons relacionamentos comerciais com diversos parceiros ao redor do mundo.
Balanço
O crescimento da suinocultura brasileira é fruto de um trabalho de longo prazo, envolvendo investimentos, avanços tecnológicos e diversificação de mercados. Se continuar nesse ritmo, o Brasil tem grandes chances de assumir a liderança global nas exportações de carne suína até o final desta década, consolidando sua posição como um dos principais fornecedores de proteína animal do mundo.
“Estamos colhendo os frutos de uma estratégia bem desenvolvida ao longo dos últimos anos, e a tendência é que o Brasil continue a expandir sua presença global no setor de carnes”, concluiu Iglesias.
Fonte: Notícias Agrícolas