China reduz compras de carne suína e afeta venda do Brasil

China reduz compras de carne suína e afeta venda do Brasil

A China está recuperando seus plantéis de suínos em um ritmo mais acelerado do que previa o setor no Brasil e a consequência disso é a menor exportação de carne suína nacional. O cenário preocupa o setor porque o grande comprador do produto vem adotando restrições mais severas à circulação de pessoas após o aumento de casos de covid-19, o que sinaliza mais dificuldades quanto à demanda. No Brasil, os números da balança comercial mostram os efeitos sobre os preços da carne com o menor apetite do país asiático no mercado global. Em março, a queda da receita do Brasil com exportações foi de 28%, ainda que o volume tenha recuado menos, 16%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia.

No ano passado, os chineses adquiriram 48% de toda a carne de porco exportada pelo Brasil, ou 533,7 mil toneladas das 1,137 milhão de toneladas enviadas ao exterior, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Pelos dados deste ano até março, a participação chinesa nas vendas de carne suína do Brasil caiu para 38% do total”, diz o analista econômico de proteína animal do Rabobank, Wagner Yanaguizawa. De janeiro a março, foram 237,5 mil toneladas da proteína, 6,3% a menos que as 253,5 mil toneladas exportadas no mesmo período do ano passado, conforme a ABPA. “Até fevereiro estávamos positivos em relação ao volume comercializado (para a China), mas por causa da menor demanda a gente vê queda”, diz Yanaguizawa.

O presidente do Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne-SC), José Antônio Ribas Júnior, diz que a situação na China tem trazido “certo desequilíbrio”. “O mercado brasileiro está um pouco mais ofertado do que o normal”, avalia. Ele lembra que, com a crise de peste suína africana no país e a abrupta queda dos plantéis por ali, que levou à demanda reforçada do gigante asiático por carne suína, produtores brasileiros se mobilizaram para ampliar a produção.

“Foi criada uma expectativa gigantesca, de que a China demoraria mais de cinco anos para repor os estoques”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes. “Fomos chamados a crescer, mas a China recuperou o seu rebanho rapidamente e está aí o motivo da crise no Brasil.” Lopes acrescenta que os criadores do país asiático conseguiram repor uma perda de 40% nas matrizes suínas por causa da PSA em apenas dois anos. Lopes acredita, porém, que, ainda assim, a China deve continuar importando a proteína brasileira, mas em menor quantidade. “A China não é autossuficiente”, afirma.

Para o segundo trimestre do ano, Yanaguizawa, do Rabobank, avalia que os embarques externos de carne suína para a China tendem a reagir apenas no segundo semestre. “Esperamos recuperação um pouco mais forte da economia chinesa e consequente melhora na demanda doméstica”, diz. Ele cita os dados das parciais das exportações do mês de abril, que apontam recuperação de volume (+10%), mas o faturamento ainda pressionado (-11%). “No fechamento do mês temos chance de encerrar acima de 100 mil toneladas, o que seria uma recuperação interessante ante março”, diz. Essa perspectiva se deve, especialmente, ao aumento da participação de outros destinos nas compras de carne suína brasileiras. No primeiro bimestre de 2022 destacou-se o aumento significativo das compras realizadas pelas Filipinas, com 6,8 mil toneladas (+255,2%), Cingapura, com 5,2 mil toneladas (+36,4%) e Argentina, com 5 mil toneladas (+71,5%), segundo dados da ABPA.

O presidente da ABCS vê um volume maior do produto brasileiro sendo destinado ao Japão, Coreia do Sul e México. “Nenhum desses países vai substituir a China, mas nossa expectativa é de que a gente consiga entrar mais nesses mercados”, aponta. Yanaguizawa, porém, lembra que haverá concorrência dos europeus. A União Europeia exportava grandes volumes de carne suína à China e também busca novos destinos.

Para a suinocultura brasileira a menor demanda chinesa e a reação ainda incipiente do consumo interno trazem desafios em um momento de forte alta dos custos, por causa sobretudo dos preços do milho e do farelo de soja. Em Santa Catarina, maior produtor de carne suína no País, a despesa cresceu 15% em março ante março de 2021, conforme a Embrapa. O custo de produção de um quilo de suíno vivo em sistema do tipo completo, aumentou R$ 0,26 no mês, para R$ 7,90. Somente nos primeiros três meses do ano, o ICPSuíno subiu 12,87%. “Estamos com margens negativas. Essa relação (de troca) é bem difícil para os pequenos. Grandes empresas, por outro lado, conseguem fazer essa relação ficar melhor”, explica Lopes, da ABCS. “A produção leva mais tempo para começar a diminuir.”

O analista do Rabobank ressalta que havia uma expectativa de que no segundo semestre haveria um movimento de baixa nos preços dos grãos, mas o cenário, especialmente, em relação à guerra na Ucrânia, mantém um balanço entre oferta e demanda apertado. “As chances de uma queda nos preços dos grãos caem dia após dia”, explica. Os valores mais altos, enfatiza, desestimulam quem produz para o mercado doméstico. “Vamos ter um segundo semestre desafiador, com eleições, o que gera um cenário de instabilidade adicional e tira um pouco da previsibilidade em torno das estratégias.” Em contrapartida, Lopes, presidente da ABCS, diz esperar que, com a queda das importações por parte da China, o movimento gere preços mais competitivos no mercado interno, o que pode beneficiar o setor.

Na média de abril, até agora, os preços do suíno vivo no atacado da Grande São Paulo estão em R$ 5,90 o quilo, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP). Nos últimos seis meses, os preços em SP acumulam desvalorização de mais de 15%. Em contrapartida, nos últimos 30 dias há recuperação, com alta de 9,2% na praça paulista até ontem (25). Segundo a analista de mercado da área de aves e suínos do Cepea, Juliana Ferraz, o cenário altista é impulsionado pelo aumento na demanda pela proteína no mercado doméstico, uma vez que o preço da carne suína está mais competitivo em comparação com a carne de frango e a bovina. “O preço mais atrativo fez com que os consumidores migrassem para essa carne”, diz.

Fonte: Agência Estado

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