Associação Paulista dos Criadores de Suínos promove workshop para debater saídas para a crise das granjas do país.
Os preços dos principais insumos agropecuários e da energia não devem cair antes de 2024, porém os produtores de carnes precisam cuidar da produtividade e atuar unidos, pois o consumo de proteína animal vai seguir crescendo na maioria dos países. O recado surgiu dos debates envolvendo três especialistas do segmento e que marcaram presença no Workshop & Bate Papo ‘Quais os verdadeiros números do mercado interno, externo e Global da Suinocultura?’, promovido pela Associação Paulista dos Criadores de Suínos (APCS), em Campinas (SP), no Hotel Premium, nesta sexta-feira, dia 23. E que reuniu quase cem profissionais de empresas e granjas que atuam na Suinocultura Independente do Estado de São Paulo.
“O mercado mundial de carnes e grãos foi sacudido por quatro tsunamis desde 2018. Primeiro, foi a Peste Suína Africana (PSA), que levou ao abate de 174 milhões de animais somente na China, responsável por 48% da produção mundial e metade do consumo planetário, de um total de aproximadamente 115 milhões de toneladas. Depois, veio a pandemia da Covid-19, com boa parte da população sendo obrigada a permanecer em casa, longe do trabalho, o que foi uma tragédia econômica, principalmente para as nações emergentes, que possuem grandes contingentes no trabalho informal. Como o Brasil. Na sequência, chegou a recessão, atingindo absolutamente todos os países. Por fim, a Rússia invadiu a Ucrânia e iniciou uma guerra que está longe de terminar. Realmente, todas as granjas brasileiras foram atingidas. E nem todos vão sobreviver. Até porque a situação de preços não melhora antes de 2024. Tem a inflação nos países ricos, problemas graves de logística. Porém, o consumo de alimentos segue aumentando. E a suinocultura vai crescer. O objetivo do criador agora tem que ser sobreviver. Continuar fazendo mais com menos. Chegar ao primeiro dia de 2023. E, depois, ao primeiro dia de 2024”, analisou o especialista e consultor da OD Consulting, Osler Desouzart, o primeiro a se apresentar no Workshop.
Ele expôs a visão que construiu nestes últimos três anos e o que deve acontecer no segmento até 2031. “A situação está difícil para o mundo inteiro. E os preços das commodities não caem em 2023. Por outro lado, o consumo de alimentos vai crescer 1,4% ao ano, até 2031. Com os países em desenvolvimento sendo o motor presente e futuro da produção e do consumo de proteínas animais. Notadamente Ásia, África e América Latina. O mundo come mais carne sem parar desde 1965. E vai seguir nessa toada. Até porque 89,1% do crescimento demográfico mundial até 2050 vão verificar-se na Ásia e África. Sendo que o futuro do mercado de alimentos está entre os que não comem o suficiente. Até uma determinada renda, as famílias usam o dinheiro para comer. E o que entra é para comprar mais proteína animal”, justificou Osler. O especialista ainda destacou projeções que apontam a produção de carnes atingindo 377 milhões de toneladas nos próximos onze anos, mas crescendo mais lentamente. “A elevação virá com tecnologia, produtividade e expansão global dos rebanhos. O continente asiático vai ficar com 34,2 milhões de toneladas (67,84%), a África vai comer 6,4 milhões de toneladas (12,83%), enquanto a América Latina vai utilizar 5,78 milhões de toneladas desse contingente adicional de carnes (11,46%)”, arrematou.
Os outros dois profissionais que também se apresentaram no evento da APCS foram Everton Daniel, da área de Marketing Estratégico e Tecnologia da Cargill Nutrição Animal, que tratou especificamente do Suíno da China, e Stephanie Hajaj, da DSM, que abordou as perspectivas das carnes e dos grãos para o Brasil e o mundo. “O mundo está bastante volátil, em todos os setores. No Agronegócio, as secas recordes castigaram a Ásia e a Europa, enquanto a evolução nos valores das matérias primas impactou todos os insumos utilizados pelas granjas de suínos, como lisina, plasma, soja, fósforo e milho. Porém, a boa notícia é que a demanda por proteína animal segue firme no mundo. E os suínos devem crescer 15%. Incluindo a porção que cabe à China, que deve consumir acima de dois milhões de toneladas ao ano, que já abocanhava antes de 2019. Eles perderam 20 milhões de toneladas produzidas pela PSA, mas a recuperação está sendo mais rápida do que as previsões mais otimistas. A gangorra dos preços já se acalmou, a produção está estável e os estoques controlados. Tudo com maior profissionalização nos novos empreendimentos”, afirmou Everton Daniel.
A crise de energia e os efeitos da guerra para os preços de insumos marcaram a palestra de Stephanie Hajaj. Ela falou do mercado mundial de carnes, da PSA, destacou os casos de Peste em países europeus, como a Alemanha, e de que maneira a rápida recuperação da China na Suinocultura fez caírem fortemente os embarques de grandes exportadores, como os europeus e o próprio Brasil. “Poucos rebanhos vêm crescendo quando olhamos os grandes produtores de suínos. A queda nas exportações foi de um milhão de toneladas somente na União Europeia, no primeiro semestre, mesmo vendendo mais para outros compradores. Já pensando na ração usada nas granjas, os Estados Unidos devem produzir menos soja e milho na safra 2022 – 2023. E há outros desafios para ficarmos de olho. O clima, os acordos de exportação da Rússia e Ucrânia, o problema do gás europeu, a crise de energia e a inflação mundial”, recomendou.
O encontro da APCS foi aberto pelo Presidente da entidade, Valdomiro Ferreira Junior. Numa fala emocionada, ele falou do abalo na saúde financeira e emocional das granjas e dos criadores com tantos problemas, e que causou a eliminação de dezenas de produtores em todo o Brasil. “A situação está muito difícil. Do jeito que está não pode continuar. E é preciso falar a verdade e expor o momento difícil por que passamos. Até mesmo por isso, recomendo a todos. Votem bem nas eleições de outubro. Pelo bem do Brasil, da economia do país, da sociedade”, alertou. Ele também agradeceu o apoio das várias empresas que atuam ao lado da Associação, como DSM, Cargill Alimentos e DesVet Produtos Veterinários, que distribuíram vários prêmios sorteados durante o evento. Maurício Prata, da DSM, entregou um kit de produtos à Sandra Brunelli, da Fazenda Brasil. Renato Colucci, da Cargill, premiou Roberto Cano de Arruda e Rafael Broek. E o Paulo Sérgio Moreira Junqueira, da Granja Santa Maria, de São José do Rio Preto (SP), deu a grande sorte de levar a televisão de 43 polegadas, entregue pelo Rafael Vigne, Gerente Comercial, e Leônidas Honorato e Gabriela Alves, todos da DesVet.
Antes da conclusão, o Workshop promoveu um debate animado com os palestrantes e o público. Eles falaram sobre o mercado internacional de carne suína, que chega a sete milhões de toneladas ao ano, a necessidade da granja brasileira atentar para o Conhecimento, conversão alimentar ainda mais eficiente, novos ingredientes nutricionais, investimentos em sanidade plena, busca de integrações para comercializar e lançar marcas exclusivas, projetos de ampliação no número de matrizes no país inteiro e a crise grave da suinocultura paulista. “A Ciência embalou a conversão alimentar eficiente conseguida nas últimas décadas. A nossa suinocultura já é 5.0. Tudo bem, Europa e América do Norte vão comer menos carne suína. Mas a produção vai crescer 16,5% até 2031. E, como a água será um vetor fundamental, pois é muito usada na produção de proteína animal, Brasil e Estados Unidos serão os privilegiados. Também devido à configuração da cadeia. Quatro países apenas representam 84% das exportações de carne suína. Está certo que o nosso país é totalmente dependente dos fertilizantes importados e usados na Agricultura, mas vai produzir mais soja, milho e outras oleaginosas. Entendam que a Suinocultura é um segmento de margens baixas, mas de demanda. Cassem e defendam-se em manada. Precisamos de mais união. Resolvam os problemas. Muita gente vai quebrar no meio do caminho. Mas teremos que encontrar um novo mundo. Trabalhem o animal como um todo. A exportação é importante para ajudar no mercado interno e na produtividade. Rediscutem os modelos para poderem sobreviver. Façam diferente e coletivamente. E aproximem-se mais ainda da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) para a abertura de mercados internacionais”, resumiu Osler Desouzart .
“A APCS vai permanecer ao lado do criador, lutando por conhecimento, parcerias, preços justos, atender o consumidor. E, no fim do ano, vamos comemorar mais uma etapa vencida com muito trabalho. Um ano difícil. Mas estaremos em Campinas, no Hotel Premium, durante o Clube do Leitão. Confraternizando, ouvindo música e, é claro, comendo carne suína”, concluiu Valdomiro Ferreira Junior.