Mais uma vez buscando levar informação de qualidade para a atualização da cadeia e contribuir na tomada de decisões, a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) junto à 333 Brasil realizou um Webinar na última quarta-feira (01/07). Com o tema “a trajetória dos velhos e novos Coronavírus e o impacto econômico frente à COVID-19 no mercado de carnes”, o evento contou com mais de 300 inscritos de países como Argentina, Bolívia, Canadá, China, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Peru, República Dominicana, Tailândia, além do Brasil.
Os convidados para o encontro foram o médico veterinário pela Universidade de São Paulo (USP) e professor na área de virologia, Paulo Eduardo Brandão e o Engenheiro Agrônomo pela USP e sócio consultor da MBAgro, Alexandre Mendonça de Barros. A mediação das palestras foi feita pela diretora técnica da ABCS, Charli Ludtke e pela Roberta Leite, gerente da 333 Brasil.
O presidente da ABCS, Marcelo Lopes, realizou a abertura do Webinar e ressaltou que esse e outros eventos tem sido possíveis por meio do apoio de associações, produtores, frigoríficos que contribuem para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura, além do varejo. “Para cumprir o nosso papel de representantes dos produtores de suínos do país contamos com o apoio de diversas entidades que valorizam a troca de experiências e de informações para o melhor desenvolvimento do setor”.
Alexandre Mendonça de Barros trouxe um panorama sobre o comercio internacional, mencionando a estratégia chinesa e acirramento comercial entre a China e os Estados Unidos e num segundo momento tratou da questão da peste suína africana e da COVID-19, explicando como os mercados globais tem sido afetados, e também comentou sobre as perspectivas do mercado de grãos.
Segundo o especialista, alguns dados trazem otimismo sobre a recuperação econômica em 2021, considerando o mercado global. O consumo ficou concentrado em produtos essenciais (alimentação e saúde) e a renda que foi poupada poderá acelerar a recuperação da economia. Por isso, a projeção dos bancos aponta para um crescimento forte. No Brasil, ele observa que a inflação de alimentos segue alta, os alimentos básicos aumentaram os preços pela demanda, mas o país garantiu o abastecimento, mostrou a importância do alimento para a saúde e a logística funcionou bem. Ele destacou que a desvalorização do real induziu um aumento na exportação e que com a queda da taxa de juros devido a inflação forte, a logística se tornou barata.
Quanto a Peste Suína Africana, ele explicou que o problema continua presente no leste europeu e que a China tem enfrentado a falta de material genético especializado para fazer recuperação do rebanho. Além disso, o país tem sido o maior importador de carnes e grãos, especificamente a soja, o que traz um alerta não só para as oportunidades para o Brasil, mas também para a necessidade de ter cautela. Dados oficiais apontam crescimento no abate em relação ao ano passado e existem questões políticas envolvidas na dinâmica de formação dos preços do suíno na China.
“Há uma boa oportunidade frente a guerra comercial entre a China e o Estados Unidos. O Brasil está suprindo as demandas e bateu todos os recordes de exportação. O que nos traz preocupação é o farelo. Os chineses estão comprando muita soja e chamo atenção para essa situação. Ainda há muita soja no Brasil, mas diante do quadro de exportação, a minha preocupação é em relação ao 4º trimestre. O ritmo de exportação é muito forte, por isso, é possível que tenhamos que trazer farelo de soja de fora, ou seja importarmos. Isso causa certa apreensão”.
Paulo Brandão desmistificou a possibilidade de transmissão do vírus por meio dos suínos, pela carne suína e pelas embalagens. Ele entende que embalagens e carnes não são uma via de transmissão, porque não há uma quantidade viável para causar infecção ou um contato suficiente para que ela aconteça. Sobre as vacinas, ele comentou que são esperadas para o ano que vem e serão usadas como prioridade para as pessoas que trabalham nos serviços essenciais.
Ele ainda aproveitou para explicar sobre a recente publicação de artigo científico, e de notícias que difundiram a informação de que foi encontrado um novo genótipo de vírus influenza nos suínos. De acordo com o professor, essa informação não é nova, com a base de monitoramento dos dados realizado de 2011 a 2018, e a forma com que foi divulgada pode ser considerada irresponsável, já que o associa ao risco de causar uma pandemia.
“O vírus influenza nos suínos não é uma surpresa, surgiu em 2009 na China e causou sérios problemas. Do ponto de vista epidemiológico e virológico, esse artigo erra já no seu título que associa o genótipo (G4 EA H1N1), que é um vírus derivado do H1N1 (influenza suína), grupo de vírus do qual associa a um outro subtipo viral que causou a pandemia de gripe. Ou seja, você atribui o risco de gerar uma nova pandemia a um vírus que circula há bastante tempo. Se caso esse vírus fosse pandêmico, isso já teria acontecido. Há muita coisa irresponsável sendo publicada e é preciso corrigir o pânico que esse artigo está causando”.
A diretora da ABCS Charli Ludtke, salientou a importância do compartilhamento de informações de forma responsável, embasadas em ciência, pois estamos enfrentando momentos de incertezas e a sociedade está fragilizada, assim informações equivocadas num momento tão delicado, podem ser desastrosas.
“E nesse sentido, o nosso papel é informar todos os produtores e profissionais que compõem os diversos elos das cadeias produtivas, com isso convidamos especialistas na área da economia e da virologia, que nos passaram a excelência do conhecimento e a maior tranquilidade e segurança para entender a atual situação brasileira e de todo o contexto internacional que nos afeta”.